terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Está lá

Estava lá. Escondido em algum lugar por trás da dobra suave dos seus sorrisos e dos olhos encharcados de lágrimas. Estava lá. Como um gigante invisível que anda a passos curtos e na pontinha dos pés, torcendo para passar desapercebido. Mas não seria possível. Não por muito tempo. Por que de alguma forma ela sabia: ele estava lá. Certamente uma hora viria a escorrer por entre as palavras ou em um gesto mal calculado. 

O amor estava lá. Guardado em um coração que se vestia com dureza, que fugia dos perigos. Mas era inútil. Ela já estava vulnerável. Amava. E isso era o bastante. O bastante para derrubar todos os muros que havia construído com suor, para desmascarar as mentirinhas que contava achando que não fariam mal a ninguém. O amor estava lá. Isso a assustava. A deixava desprotegida. Era uma verdade velada, enterrada em suas entranhas. Ninguém precisava saber. O amor estava bem escondido no cantinho mais escuro da sala de seus pensamentos. 

De uma forma ou de outra, ele estava lá. Sendo suprimido pela dor que um dia estivera ao seu lado e que, ao ir embora, esqueceu de limpar a bagunça que tinha feito. E ele era o seu maior segredo. Mulher forte? Só para o lado de fora. Solitária, assumidamente. Assim era melhor. Assim seria seguro. Ninguém mais haveria de enxergar o que um dia era escancarado: ela era uma menina assustada. Tudo isso porque ele estava lá. "Amor, vá embora.", repetia. Nunca adiantava. Ele ficava. E cada vez que ela tentava o expulsar, ele se escondia em um lugar mais difícil de desvendar.

O seu esconderijo ainda não foi descoberto. Mas ele está lá. Escondido e cada vez maior. Ele já passou da idade de ser mais maduro, mas prefere ser criança. Brincar de esconde-esconde pode ser cansativo para um adulto. Mas ele não cansa. Se esconde nas vestes, no riso, no olhar opaco, no som doce da voz. Ele é tudo nela. Mas, ainda assim, vive despretensiosamente, fingindo não ser nada.

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