domingo, 2 de junho de 2013

Fresta

Olhou pela janela do quarto e viu uma pequena fresta, que trazia a luz do recente amanhecer. Fechou novamente os olhos, mas não conseguiu voltar a dormir. Era como se aquele pequeno facho de luz lhe obrigasse a levantar ir concertar o que estava errado. Uma ponta de esperança surgiu, quem diria. Vai ver ela é mesmo a última que morre. Sentiu-se humano por encaixar-se nesse clichê. Afinal, que mais é o mundo além de um imenso clichê? As pessoas estão se igualando, buscando as mesmas conquistas, tentando alcançar o que algum mentiroso muito convincente chamou de felicidade. Soube naquele momento que havia muita semelhança entre a vida e aquele facho de luz. Seu brilho é sutil, discreto e não se enconde em grandiosidades, mas na simplicidade do nascer do dia. Ficou muito claro que existia uma vida por trás dos dias, enfiada lá no fundo, onde poucos se dão ao trabalho de procurar. Era preciso ler não só os fatos, mas também suas entrelinhas. Talvez viesse a esquecer tudo aquilo no dia seguinte, mas, naquele momento, ele sabia. E foi o suficiente para trazer de volta o sentido que estava perdido.

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