domingo, 8 de setembro de 2013

Olhos buscam vida

Corria pelos corredores. De um leito para o outro, do consultório para a emergência. Via de tudo. Quem um dia achava que a natureza era toda perfeita descobriu que o ser humano pode ser muito asqueroso. O lado feio, a face de desespero, o suor, o odor forte e o tremor de quem sofre eram, por vezes, ignorados, para não se tornarem insuportáveis. Concentrava-se no alívio, na fragilidade, na gratidão, na cura. Tinha pressa, pois sabia que o tempo podia ser um grande inimigo. Amava-se por saber que era fundamental ali. Mas o fundamental se confundia em meio às suas prioridades invertidas. Trabalho. Amor. Tempo. Café. Deus. Ar. Saúde. Não necessariamente nessa ordem. Tinha olhos profundos que buscavam, desesperados, por vida. Por força, por luz e alma. Tinha fascínio por gente, e amava a vida sobremaneira por conhecer tão de perto a morte. Assistia a vida se esvaindo friamente, embora outrora tivesse derramado muitas lágrimas. A morte perdeu o controle sobre ela. Era só o final da história. O importante, pra ela, era fazer com que os capítulos anteriores fossem perfeitamente suportáveis e, quem sabe, até agradáveis.

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