- Olha aquela ali, parece um elefante. - Disse Mônica, deitada na grama e com olhos de menina, buscando desenhos nas nuvens.
- Elefante não! Acho parecida com uma caixinha de música.
- Caixinha de música?
- Sim. Daquelas que tinha na casa de avós, que a gente abre e toca uma musiquinha, com uma bailarina girando... - Respondeu Marcos, enquanto deitava ao lado dela. Lembrou da sua infância e sentiu uma lágrima, astuta, molhar um dos seus olhos verdes. Não a deixou escorrer. Segurou-a, enquanto olhava para Mônica, que fazia certo esforço para lembrar daquela relíquia.
- Acho que nunca vi uma. Não tive avós, sabe? Morreram antes que eu nascesse.
Houve um silêncio de alguns segundos, enquanto Marcos dava um beijo na testa dela, como quem diz que sente muito, mas sem querer parecer melancólico. Mônica, então, perguntou, meio risonha:
- O que tem a ver um elefante com uma caixa?
- Eu não sei, meu amor. Vai ver nossa forma de enxergar as coisas é diferente demais.
- Hm. Gosto que seja assim. Me faz ver novos caminhos que antes pareciam distantes e confusos.
- Olha aquela outra - Marcos falou apressadamente, sem querer tornar aquela conversa séria ou profunda demais. - Parece um jaboti.
- Aquela ali? Não, parece um coração.
- Você é engraçada. Quem te vê assim, achando corações nas nuvens, pode até pensar que é uma mocinha romântica.
Ela riu. Sabia que Marcos era muito mais romântico que ela. Dava flores, cartões... Ela preferiria, no fundo, ganhar sapatos. Mas, claro, nunca disse isso a ele. No entanto, nunca o presenteava com algo meloso. Preferia dar um presente funcional. Marcos ficava um pouco decepcionado, mas não demonstrava. Ao contrário, sempre dizia ter adorado. O mesmo acontecia quando iam sair à noite: Marcos queria ir à um restaurante, Mônica preferia um clube ou uma festa. Os dois iam cedendo, cada um do seu modo. E também fingindo alguns sorrisos quando eram contrariados. Fazer o quê? Eram essas mentirinhas que salvavam a relação... Se fosse confessar que odiavam tudo que o outro adorava, já estariam separados há muito tempo. Talvez a verdade não seja tão boa assim como dizem. Vai ver foi feita apenas para ser adorada, colocada num pedestal, no mais alto pódio, não para ser sempre dita. Pensando nisso, Mônica soltou mais uma mentirinha:
- Eu sou, sim. Quando estou com você. - Falou, se achando meio ridícula e olhando nos olhos dele, que brilharam. A julgar por esse brilho, talvez ser ridícula não fosse tão mal assim...
Ao sentir o coração aquecido por aquelas palavras, Marcos achou que tinha sorte por estar com uma pessoa tão sensível, que tinha marra, mas no fundo era tão romântica quanto ele. Foi a vez dele de soltar uma mentirinha, para tornar o momento mais bonito:
- É, você tem razão. Aquela nuvem parece mesmo um coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário