"Digam o que disserem, o mal do século é a solidão" - disse Renato Russo em um ímpeto de saber e melancolia. Alguém se atreve a discordar? Podem citar a fome, as secas, a crise econômica, a violência, a pirataria... Nenhum mal da sociedade é maior que o desamor. Estamos cercados, sim. Há mais de 7 bilhões de pessoas no mundo, os bancos estão lotados e as filas, intermináveis. O trânsito é caótico, a frota de automóveis cresce a cada ano. Dentro dos carros, porém, é cada um no seu mundo. Os vidros fechados formam uma barreira entre nós e os ricos, estressados, malabaristas do sinal e as crianças dormindo na calçada.
Sem querer parecer piegas ou dramática, mas não consigo me imaginar viver um dia sequer sem amor. Somos humanos, carne e osso! Precisamos de calor, de olho no olho. Talvez seja meu jeito torto de enxergar as coisas, mas acho que o amor está, sim, em todo lugar. Ele não morreu. O problema é que, muitas vezes, é direcionado erroneamente: para o dinheiro, para os bens, poder, status ou simplesmente apenas para si mesmo. O amor não é concreto. Pode ser dividido em milhões de pedacinhos, e continuará tendo o mesmo valor. O que nos custa, então, distribuí-lo por aí?
Ao ver o vai e vem nas ruas, o corre corre do cotidiano, as pessoas que se cruzam sem dar bom dia, sinto que tudo isso está muito, muito longe de acabar. Talvez esteja só começando. Mas um dia vai ter que ter fim. Afinal, todos somos dependentes uns dos outros. Financeira, funcional ou afetivamente. Que seríamos sem os padeiros, garis, médicos, engenheiros, empresários e gerentes de RH? Como nos tornaríamos quem somos sem nossos pais, avós, professores, vizinhos, coleguinhas de turma e seguranças do bairro?
Embora eu não seja uma grande fã de clichês, alguns deles são cheios de sabedoria. Como crescer sem escutar que "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho"? Em algum momento da vida, nós somos um daqueles solitários na multidão. E, sejamos justos, a tal solidão pode doer pra caramba e ser a raiz da infelicidade, mas pode fazer bem se for passageira. Precisamos nos encher de nós mesmos, nos conhecer, nos amar... e então estaremos prontos para amar a quem quer que seja. Seremos diferentes. Um rosto cheio de vida em meio à uma multidão homogênea, fria, quase estéril de solitários escondidos atrás do guarda chuva, esperando para serem, enfim, cativados...
... E assim começar uma corrente que pode mudar o mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário