"Talvez, só talvez, não seja apenas uma piada, sua boba. Talvez ele realmente se preocupe com você..."
Quando abriu os olhos, viu seu vulto na varanda do quarto. Inclinou-se e a observou enquanto ela secava os cabelos longos e negros suavemente com a toalha, deixando a luz do sol recém-nascido iluminar seu rosto. Ficou, então, lembrando da noite anterior. Apesar de saber que houvera achado o que procurava, insistia em ser relutante. Não gostava de se apegar demais. Porém, depois de tudo que tinha acontecido, ao menos a memória dele ela já havia conquistado. O coração estaria a alguns passos dali.
Ficou lembrando de como ela ficava entranhada nos travesseiros, quase adormecida, mas ainda sorrindo para ele. Ele ficava falando do que eles iriam fazer no dia seguinte no trabalho, enquanto ela insistia que eles precisavam trabalhar, sim, mas em cima dos seus sentimentos. Dizia que eles precisavam formar mais laços, que precisava haver mais entre os dois. Estavam lado a lado. Pra ele isso bastava, mas não para ela. Nunca foi de se contentar com migalhas, não senhor. Exigia mais, o que lhe deixava aborrecido, mas ao mesmo tempo inevitavelmente encantado.
Quando ela veio para dentro desejar um bom dia, pareceu a voz que ele poderia escutar todos os dias pela manhã. Talvez trabalhar os sentimentos não fosse assim tão difícil. Quem sabe seja até desnecessário - os sentimentos já estavam trabalhados por si mesmos. Eram naturais. Eles eram um do outro. E ele soube que precisava fazê-la perceber. Perceber que aquele era o jeito torto dele de falar que a ama. Que as piadinhas e os ciumes bobos são na verdade a forma de demonstrar que se importa. Os problemas dela são dele. E vice-versa. As coisas lindas ficam mais lindas a partir dessa descoberta. Só lhe restava fazê-la descobrir junto com ele.
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