segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Televisão, tempo e finais de ano

Muito me irritam essas pessoas que dizem que televisão só tem coisa ruim. Muito fácil falar que não presta. Queria ver era elas viverem sem uma televisãozinha de vez em quando. Sem falar que muitos por ai só tem uma pequena noção do que ocorre no mundo por causa dela.

Eu, assumidamente e sem culpa nenhuma, adoro ver uma besteirinha na Tv. Em uma dessas tardes entediantes de domingo nas quais a preguiça não me permite fazer mais nada além de ficar deitada assistindo alguma coisa, vi uma reportagem que citava um trecho de uma obra da Simone de Beauvoir que expressa muito bem a impressão que tenho sobre o tempo, a vida e sua passagem.

Dizia assim: "O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu nao ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que o passado é quem define a minha abertura pra o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e a qual devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa hoje para a minha liberdade? Não sou escrava dele.  O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida.  (...) Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos."

Tem muita gente por ai opinando sobre oque o tempo é e nao é. Inclusive eu. Mas achei o modo como a autora sugeriu extremamente sensível. Afinal, é isso que o tempo e o passado fazem com a gente. Prendem e libertam, tudo ao mesmo tempo. Muita coisa esses dois já tiraram de mim, mas a sabedoria e a maturidade que os anos trazem, nada mais pode oferecer. É o melhor remédio pra feridas abertas, coração machucado, cabeça dura e todas essas coisas que todo mundo tem em alguma fase da vida. Ou em todas elas, só que de formas diferentes.

É até clichê refletir sobre essa matéria estranha que é o tempo em finais de ano, mas não resisti. É algo que esse clima de ano novo sempre me traz. Essa coisa de encerrar um ciclo e começar tudo de novo. Esse monte de gente falando que "nossa, o ano voou."  E de fato, voou mesmo. Mas ainda bem que alguém teve a ideia de dividir o tempo em pedacinhos, pra dar a impressão de que dessa vez vai ser diferente. Que vai mudar, e pra melhor. Quando, na verdade, o sol vai continuar brilhando como sempre brilhou, o corre corre vai continuar exatamente da mesma maneira e as avenidas vão permanecer lotadas de gente pra lá e pra cá. Quem pode mudar é a gente. Deixando surgir um amor enorme dentro de nós. Pra ver se ilumina quem tá do nosso lado. Pra ver se dá força pra o outro seguir — porque, como dizem, o tempo não espera por ninguém.

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