sexta-feira, 15 de março de 2013

O novo papa, a simplicidade e o poder

Algumas semanas atrás, quando o antigo papa renunciou, fez-se o furdúncio. Todo mundo queria dar sua opinião, embora muitos não fizessem ideia do que estavam falando. Muitas conspirações, discursos e teorias depois, os problemas da Igreja começaram a ficar cada vez mais claros e escancarados. Como se já não estivessem dando as caras há muito tempo.

As pessoas tem mania de uma cegueira seletiva sem limite. A corrupção, a pedofilia, a ostentação... tudo isso já estava vivo dentro da Igreja desde que esta existe. Apenas muda de cara através das gerações. Não vai ser a renúncia de um Papa - creio eu mais abatido pela verdade diante dos seus olhos do que pelas suas enfermidades- que vai mudar isso. Nem a eleição de outro. Enquanto a fachada for mais importante que a obra, tudo permanecerá da mesma forma. Enquanto de um lado do muro a igreja goza de luxos desnecessários, do outro lado pessoas passam fome. Fiéis em potencial, clamando para serem resgatados. Pena que o sino do templo soa mais alto do que os seus gritos de socorro.

Quando falo em igreja, note, não estou usando letra maiúscula. Não me refiro propriamente à instituição. A verdadeira igreja somos nós. Até quando iremos fechar os olhos? Até quando religião vai ser motivo de briga? Até quando iremos medir poder dentro dos ministérios? O real sentido deles é alcançar todos! O problema é que a simplicidade se perdeu. Sim, ela mesma, aquela que Jesus não só ensinou, mas aplicou em todos os dias de sua vida na Terra. Exagero? Não. Tanto é que o Papa Francisco chama a atenção justamente por apresentar toques desse valor tão raro, não apenas dentre o Clero, mas em toda sociedade cristã.

Não, Jorge Mário Bergoglio não impressiona apenas por ser argentino, o primeiro papa não-europeu depois de 1200 anos. Conhecido por sua dedicação aos pobres do país, ele abdicou de um palácio por um pequeno apartamento, andava de transporte público em vez de um carro com chofer e cozinhava suas próprias refeições. São sopros de simplicidade que deveriam estar presentes em qualquer um que almeje fazer parte do Reino.

Eu sei, estou gritando no escuro. É uma voz muda. Mas alguém tem que lutar por alguma coisa além do poder, pois este já está nos consumindo demais. O itinerário do florescer humano vai muito além de pompa, aplausos, riqueza. É uma questão de face a face. De dar as mãos. Sentir o outro. É disso que as igrejas precisam: de gente! Padres, pastores, bispos, papas, líderes... e, acima de tudo, de fiéis. De crentes. De gente que se importa com o mundo além dos portões do templo. Enquanto isso não se espalhar, enquanto os muros construídos não forem derrubados, sinto dizer: a Igreja continuará afundando. E nós, igreja, iremos junto. Chega de rivalidade com o próximo. Sejamos simples - e o mundo mais simples se tornará. 

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