sexta-feira, 8 de março de 2013

Sobre o dia internacional da mulher

Lia nasceu no subúrbio. Uma casinha pobre, sem luz, sem muita comida na despensa. Não tinha pai, ao menos até onde sabia. Morava com a avó e mais 3 irmãos. A mãe aparecia vez por outra, estava sempre metida em confusão, já havia sido presa duas vezes e gastava o dinheiro que deveria trazer para casa com drogas. Lia passava os dias cuidando dos seus irmãos menores e da casa, já que sua avó estava doente. Não raro faltava a escola. Não tinha referência masculina em sua vida, mas nos poucos contatos que teve com o sexo oposto na infância, sentia medo e angústia. Quando tinha 8 anos, fora abusava sexualmente por um vizinho. Isso a fez ter um comportamento isolado, mas ao mesmo tempo, sexualizado. Na adolescência, usava roupas curtas e andava nas ruas disposta a atrair olhares, o que a rendeu muitas idas pra cama com homens que mal conhecia. Sonhava que, um dia, algum deles iria realmente amá-la e tirá-la daquela vida pobre, sem rumo, sem perspectiva. Nunca chegou a acontecer. Engravidou aos 19 anos e, ao contar a notícia ao pai da criança, recebeu um olho roxo de presente. Quando foi morar com ele, em uma favela longe da que sua família morava, as agressões viraram constantes. 2 gravidezes depois, resolveu procurar a delegacia para denuncia-lo. Separou-se. Cuidou sozinha dos filhos depois que a avó morreu. Trabalhava fazendo faxina e vendendo marmita. Sim, a vida era difícil. Mas ela não tinha tempo pra se lamentar. Afinal, era só mais uma no meio de tantas outras.

No ano de 1857, nesse mesmo dia, 136 mulheres foram queimadas vivas dentro de uma fábrica após reinvidarem a diminuição da sua jornada de trabalho. Hoje, comemoramos o dia internacional da mulher como uma homenagem a essas que perderam a vida por exigir seus direitos. É inegável que várias conquistas foram concretizadas para que nós mulheres ganhássemos lugar nos mais diversos setores da sociedade, mas ainda hoje muitas são violentadas verbal, física e sexualmente todos os dias. São agredidas e mortas dentro de suas casas, pelos próprios maridos. São aprisionadas por culturas extremistas, radicalismo religioso e machismo. Vivem com medo. São abusadas quando crianças e estupradas quando adolescentes. São vítimas de um mundo que insiste em chama-las de sexo frágil, sem conhecer a força que têm. São mães, filhas, esposas, amigas, trabalhadoras, donas de casa. São vida. São mulheres.

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