terça-feira, 9 de julho de 2013

Curvinhas


Cruzou a rua distraída, como quem sabe que nada iria lhe atingir. Não naquele dia. Andava sem olhar pra os lados. Pra trás, então, nem pensar. Chegou, por um momento, até a esquecer por onde estava. Simplesmente dava um passo depois do outro, com ar de quem tem pressa pra chegar a algum lugar, mas na verdade não buscava lugar algum. Queria só sentir a brisa e o sol na pele. Sorriu. Um sorriso que chegou em seu rosto sem esforço, despretensioso, mas nem por isso discreto. A alegria que não cabia mais dentro de si transbordou para a boca, formando nela uma curvinha particularmente linda, que não passou desapercebida por ninguém que passou ao menos dois segundos a observando. Quem era o dono de um sorriso tão sutilmente escandaloso? Qual era a razão? Que motivos haviam para que, em um dia comum, numa rua suja e com crianças dormindo na calçada, se destacasse um sorriso largo e doce? Isso, ninguém nunca vai saber. Mas, seja ele qual for, vai parecer bobo pra alguém. Vai parecer pouco, um detalhe pequeno demais diante de tantas tortuosidades. Mas a vida é torta, mesmo. É cheia de buracos, de curvas. E é justamente por isso que combina tanto com uma curvinha no rosto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário