quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Aquelas fotos

Devia ter 35 anos quando as viu pela primeira vez. Fotografias do seu passado, da sua infância, de seus pais falecidos e da rua que costumava morar quando criança.

Pedro era uma daquelas pessoas estranhas que gostam de ficar sozinhas. Perdoem-me quem também tem essa mania, mas tenho horror à solidão. Depois de tantas perdas que enfrentou na vida, tinha resolvido que não perderia mais nada. Desapegou-se das lembranças a ponto de jamais olhar fotografia, camisa velha  ou qualquer coisa que o pudesse relembrar tudo que passara.

Se engana, porém, quem acha que por causa disso Pedro vivia de forma miserável e infeliz. Sentia-se tão bem como qualquer um que o rodeava, trabalhava como um doce e morava sozinho em um casarão com seu cachorro. Voltava do emprego ouvindo música no carro e com um sorriso cotidiano no rosto de quem não está saltitando, mas vive muito bem, obrigado. 

Em sua mania de desapego, resolver mudar-se para uma casa um pouco menor porém mais aconchegante, seguindo sua vida sem deixar que as marcas do passado o encontrem. No dia da mudança, porém, encontrar os resquícios foi inevitável. Sentado em sua mesa grande, sempre com o café a tiracolo e revirando uma papelada, abriu um envelope cheio de fotografias antigas. Ao encontrá-las, automaticamente tentou desfazer-se delas, mas um simples passar de olhos prendeu sua atenção de forma súbita e inesperada.

Não eram fotos profissionais, nem especialmente bonitas e requintadas, mas eram dele. Até já havia esquecido suas feições de infante. Reparou que era uma criança bonita, corada e bem alimentada e, embora não lembrasse bem o motivo, exorbitantemente feliz. É claro, isso antes de todas as tragédias que ocorreram em sua família.

Depois de brevemente relembrar seus dias de glória, pensou nos dias de pobreza, luto, fome e sofrimento. Havia tanto tempo que não pensava sobre isso que nem percebia que já haviam se passado mais de 20 anos e, tentando fugir desse passado, acabou preso a ele. Mas, em apenas alguns minutos, tudo mudara. Agora Pedro se reconhecia em todas aqueles momentos, e estava livre pra seguir em frente. Afinal, não tinha mais medo da sua própria história. Agora podia voltar do trabalho com um sorriso mais largo, cantarolando as músicas do rádio e, no caminho, deixar a mania de solidão de lado e passar na casa humilde de seus irmãos que tanto sentiram sua falta. Enfim, Pedro estava livre.

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