domingo, 28 de abril de 2013

Aos 35 anos

- Uma bebida sem gelo, por favor - Pediu ao garçom, tocando suavemente os longos cabelos castanhos.

Saiu de casa querendo ficar um pouco sozinha, conversar consigo mesma enquanto tomava um drinque pensando sobre o seu casamento, emprego, sentimentos... enfim, todo aquele entrelaçado de pessoas e situações do seu cotidiano. Depois de alguns minutos, entretanto, encontrou com uma amiga de infância, também sozinha, que passava por ali para comer algo após um longo dia de trabalho.

- Júlia? - Perguntou a amiga, num tom de surpresa.
- Oi! Quanto tempo!
- Pois é, menina. Sabe como é, com tantas obrigações, a gente acaba sem tempo pra nada.

A amiga acabou sentando na mesa, o que estragou os planos de Júlia de conversar consigo mesma e pensar na vida, mas a levou a pensar sobre outra coisa: o tempo. A frase que, sem nem pensar, a amiga falou, a tocou profundamente. "A gente acaba sem tempo pra nada..." Será mesmo que tem que ser assim? Ficar presa à uma rotina cansativa e sem brilho? Deixar de viver o que a gente gosta, de estar com quem ama, escutar música, dançar, olhar nos olhos ou simplesmente não fazer nada, só curtir um pouco a preguiça do domingo. 

De repente começou a se achar velha demais. Percebeu que já tinha 35 anos. Gelou. Ontem mesmo era 25... passou rápido demais. Ela ficou sem tempo de comemorar a vida. Tinha que cuidar da casa, dos dois filhos, marido e ainda do seu emprego mais ou menos, cujo salário mal dava para pagar as contas. Viviam apertando daqui e dali, visto que o salário do marido também não era grande coisa, e queriam juntar dinheiro para comprar uma casa e sair do aluguel. Onde estava a graça de tudo aquilo? Dez anos atrás tudo parecia mais divertido e promissor. Vai ver que o tempo leva consigo também a magia. 

Se despediu da amiga e, no trânsito de volta para casa, ligou o rádio. Sentiu os acordes tocarem lá dentro da sua alma já esmorecida pelo tédio. Percebeu que ainda estava viva. Ainda dava tempo. Afinal, só tinha 35 anos. 35 anos nos quais construiu não só a si mesma, mas a uma família. 35 anos que não deviam ser em vão. Ela ainda tinha muitos e muitos pela frente. Tempo suficiente pra viver, mas não pra desperdiçar. Para não acabar sem tempo pra nada, precisaria de mais do que uma bebida sem gelo. Precisava aquecer seu coração e seus sentidos. Precisava de um amor, um olhar, uma vida sem gelo.

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